segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Eu tenho medo

Tua delicadeza é tão intensa

E tua beleza, tão frágil

Tenho medo que a força do meu amor

Te parta em pedaços

Eu tenho medo

Que teu sorriso seja mais

Fruto do eu-palhaço

Que do peso dos meus ossos

E dos abraços

E assim, te machuque

Oh, coisinha amável

Temo tanto

Não te fazer feliz

O mais que posso

Uibaí, 11 de dezembro de 2010

quinta-feira, 9 de dezembro de 2010




Ela parece que saiu de um conto

E faz poesia

Me aborrece quando some

Um fastio

Me assombra quando aparece

Com heresias

Pois ela é santa e é rebelde

Entender? Desafio!

Ah, outro dia ela disse

“Não sei viver assim

Muito menos de outro modo”

E eu não a aconselho

Nem reprovo

Pois sei que a flor

Ainda não saiu do botão

Renovo os votos de felicidade

Mas sei que o trabalho e sofrimento lhe esperam

Pois os medíocres são felizes

E os grandes se realizam

E ela é grande

Ela é deste tamanho, não

Ela é bem maior

Que todos

Ai, que sorte eu tenho de tê-la na minha vida


Amor acontece, como acontece a chuva

domingo, 5 de dezembro de 2010

Morro Branco





Eu não sei ao certo o que dizer
só sei que há de ser
coisa importante!
Eu não sei que palavras sairão
mas são inspiradoras as noites de verão
no inverno sertanejo
Eu não sou o mesmo que antes
e hei de fazer
o que há de ser feito
uma palavra, um abraço, um beijo!

Flávio Dantas Martins
Feira de Santana, 06 de dezembro de 2010




Um "quero, mas não posso"
a mim não diz nada
se queres, solte as asas
e venha encarnar meus ossos

Mas, porém, se não sabes
o que queres, pois não quer
sei que és, pois não, mulher
e isso por si explica o que fazes

só não me brigue ou mate
sem, depois, fazer as pazes
e tornar uma só, duas faces
e dois corpos em vênus, não marte!

ah, me abra feridas que não caibam gazes

domingo, 21 de novembro de 2010

que há de se fazer?
todas as cortinas foram comidas pelas traças
os buracos foram fechados pela prefeitura
as portas falsas, de tão falsas, não dão em canto nenhum
as arestas aparadas, sem cantos
as feras não tem apetite
e agora?

a festa prossegue, mas sem lugar pra si
a luz agora vem de grandes moinhos, energia limpa, não-poluente
o povo passa, mas não dá atenção alguma

seus cartões não são autorizados
seu dinheiro perdeu o valor

que há de se fazer?
assim sinto
esse fastio
vazio

ah, vida besta do diabo!

terça-feira, 26 de outubro de 2010


Imprimi aquelas nossas fotos
Para guardá-las na caixa.
Aquela caixa que lhe falei, onde guardo
Minhas 100 cartas de amor
Umas 6 que contém ódio
E duas de rancor
Aquela caixa de fatos insólitos
Dos tempos loucos da minha juventude
Em que eu ardia nas praças
Esperando uma velhice cálida

Eis-me velho
E ainda louco

Mas descobri, atônito,
Que não posso guardá-la
Na minha caixa
Lá está o passado
Distante, de outro século,

Então resolvi guardar-lher
Proteger do frio, da chuva,
(Queria proteger do mundo, mas não fui feito anjo da guarda
Fui feito gente, fraca)

Mas não numa caixa, dentro de um guarda-roupa,
onde habitam o escuro, aranhas, pó

E você não é feita desse pó
Mas de outro
Do pó de Apolo, deus da sabedoria, e, certamente
Das artistas meigas das linhas e das palavras

Então, comprei-lhe uma caixa de vidro
E quando eu tiver uma casa
(Nem precisa ser casa, basta que eu tenha uma parede)
Vou pôr à vista de todos
E dizer, orgulhoso, que faz parte de meu presente!

terça-feira, 5 de outubro de 2010

quarta-feira, 29 de setembro de 2010


Sei que está em algum lugar

Fui em bibliotecas, igrejas
Fui em sindicatos e púlpitos
Cavei debaixo de altares
Revolvi cascalho e violei tumbas

Sei que não há de falhar

Revisei todos os tomos de ciências
Alquimia do tempo, lógica da vida
Passei por todas as artes, sem talento,
Mas buscava o que está além da arte

Sei que está por aí, toupeira

Descubro, atônito,
Que o que procuro
Não pode ser encontrado
O que procuro
É que nos encontra
Numa esquina perigosa
Numa tarde de céu azul
Caindo como um raio

Descobri que falho
Mas está por aí

umas fotos bonitas que eu fiz





Desilusão


Nas ruas
Cenhos e austeridade
Pejo

Olho os jornais
Buscando a saída
Mas cancelaram a minha assinatura
TV? Não possuo mais, ela quebrou

Nos livros, me perdi
Buscava caminhos onde havia nuvens
Botava os pés em ventos sem rastros

Ah, poderia organizar uma greve, uma revolução
Um golpe de estado
Mas perdi o emprego
E escolhi o ócio
Não tenho salário nem vivo do trabalho
Vivo de crer
Que ainda há algo para ser crido
Que valha a pena
Que faça sentido

quinta-feira, 23 de setembro de 2010


Hoje eu peso as coisas

Numa balança

Queria por o coração de um lado e uma pluma noutro

Mas não tenho plumas, só penas

E não há coração, dei a outrem

E o fizeram em pedaços

Então, ponho as minhas mãos calejadas

Em um dos pratos

Pesam, apesar, magras

E no outro, que pôr?

O sal que me sai dos olhos?

Ou as rugas que cobrem as faces?

A prata dos cabelos?

Algum velho retrato?

Ah, bobagem, não ponho nada

Deixe de tristeza e sonho

Me cansei de tanta besteira!

segunda-feira, 20 de setembro de 2010


Mas não mais peço amor

Nem amado sou, creio

Ah, sou

Mas não daquele jeito

Prometi rosas, cânticos, poemas

Bebedeiras trágicas

Prometi serenatas

Com os boêmios mais vagabundos

Prometi chorar até

Com lágrimas salgadas

Retiradas do vale de lágrimas mais triste

Das novelas, do cinema, dos dramas e dos romances

Mas soaram falsas minhas promessas

E quando a tive, novamente,

Não mais amava-a

Ah, amasse-me como outrora

Não seria recíproco

Tudo é como não pode ser

E o que deve ser

Não é


Teus braços de linhas

Tem dedos ligeiros

Em “graciosas” mãos

De uma Graça em pessoa

Deles saem flores, pântanos

Criaturas sorridentes

Caricaturas engraçadas

E cores infindáveis

Em traços preto-e-branco

Como consegues, Moça?

Como consegues ser tão graciosa

Fazer a gente te amar assim de graça

E sorrir feito uma criança

Quanto te vejo na praça

Como consegues?

Penso que a tua mais bela obra-prima

De teu ofício de arte que nunca terá

Será o desenho do teu sorriso

Gravado na minha alma

Lá onde guardo as coisinhas simples

E banais e graciosas

Que fazem a vida valer a pena!


Acordo à noite, friento e pavoroso

E me assusta o ruflar de asas de uma ave

Aos poucos o teu cabelo em chamas, gracioso

Me vêem da memória e fere alma como um sabre


Eu a sonhava e era um pesadelo

Pois eu a tinha em meus braços como a vida

E a perdia, velozmente, como a morte

E ela queimava meus olhos dizendo adeus


Se queixando que não valho um níquel, um cobre

Ia embora por meu descaso e desleixo

E eu, odiado filho de Morpheus


Acordava, sôfrego, com o peito arfante

Ah, como teu calor me deixa em brasa

E como teu pensar me causa asma!

segunda-feira, 13 de setembro de 2010


Muitas vezes a vida me acontecia

Eu me perdia, eu chorava riachos

Hoje eu rio e mar

Perdido, me acho


Ah, como sou velho

Como não sei nada

E possuo fastio em aprender

Sou rabugento e desagradável

E meus olhos não brilham

E não sei ser criança hora alguma

Ah, como sou antiquado e ultrapassado

E não sei usar os termos da minha geração

Para designar o amor e o engano

E ilusão e o preconceito

A idiotice e a superficialidade

Ai! Queria não ser velho

E talvez até pensassem em ser jovem

Talvez até achasse graça

Em alguma coisa em tudo isso?

Feira de Santana, 12 de setembro de 2010

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Crendice



Mais uma tragada dessa saudade cheirosa. Guardo uns sonhos no canto do quarto. Procuro a caixa de cartas velhas e releio como se tivesse voltado a viver. Minha coluna, ereta, dói e procuro um desconforto na inexatidão. Rumino a dor. Desgosto áspero. Arrependimento em ter acreditado. Traição de todos, sim, mas vinda de mim mesmo. Sim. Me iludi, preguei cartazes de circo na transparência da vidraça. Vergonha de ter crido. Se meus papéis se queimassem agora nas mãos dela...

23-12-2003

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Persephone


Arranco a vida de uma flor

E antes dela perecer, desfaço suas pétalas

Bem-me-quer, mal-me-quer

Com a sofreguidão de bacantes acéfalas

Todo coração

E a flor vingativa

Parece ecoar meu mal-me-quer

E me nega, a cada pulso, essa mulher

E a escuridão me abriga

E só desejo o sol

E ela é céu, é brisa, é mar

É toda a força natural

Que faz crescer as árvores frondosas

E muito mais destrói, decompõe e desfaz

E me instiga à perseguição até furar os pés

E parece que recuso a ouvir quem é

Quanto mais mal-me-quer

Mais bem me faz

Feira de Santana, 01 de setembro de 2010


Assombra-me com teu saber

Que precisa em poucas linhas quem sou

Mesmo sem saber disso

E eu não sei sabê-la

E fico triste, pois não retribuo

A alegria que ela me dá

Mas, por outro lado,

É isso que nela me encanta

Não sabê-la como ela me sabe

Mistério! Misteriosa é a madrugada

Secreta! Segredo é a maçonaria

Oculta é a magia da ficção

Ela me revela a vida

E se desfaz como a névoa

Da manhã da serra

Serra da minha terra

De montanhas que chamam morros

E pântanos que chamam brejos

Na minha terra

Chamaram ela

De danada

Mas ela é pura e santa

Como uma criança

Doce

(Mas parece tanto com a Mulher que Não Conheço)

Eu não a entendo

E quero entendê-la

E não posso

Feira de Santana, 01 de setembro de 2010

segunda-feira, 5 de julho de 2010

noite longa

uma mesa cheia de livros
cadernos, canetas, notas, apontamentos
um copo sujo de café, cinzeiro
a fumaça vã a expulsar os tormentos

uma noite fria no inverno feirense
a vida a espreitar-me pela fresta da noite
gatos quebrando o telhado e gemendo
o mais terno gozo do mais vil açoite

e eu penso na vida que tive
no que me leva e me trás
por estradas que já percorri mil
vezes além dos meus ancestrais

e me pergunto, pois, se a vida
é um jogo de ambições imensuráveis
a apostar-se contra tudo o nada
em prol de sonhos tão admiráveis

ou é renunciar a toda a vileza
e mesquinhez de trabalhar com afinco
não fazer o que quer para nada
e, sem necessidade, encontrar-se rico

e soçobrar preguiçoso no rede
ao som de um modesto acalanto
de uma mulata dengosa e, sentir
o cheiro do café e o fumo queimando

e me transporto, dias adiante
vendo-me glorioso e anormal
desfrutando dos amores e amantes
ou então, me vejo fracassado e banal

e não sei resolver tamanho dilema
sem saber se descanso ou usufruo
dos frutos do trabalho que não fiz
viver o essencial ou o superfluo

enquanto isso, os gatos gemem
cortando com seus ruídos a noite espessa
e os livros esperando-me na mesa
e eu a espera de algo que aconteça

terça-feira, 15 de junho de 2010


Mais uma vez a vida me chama

E eu que não sei dizer não

Vou

Cautela, dizem os ladinos

E eu que da estrada

Sou

Vou sem despedidas, bolos, festas

Deixo um chão sem rastros

Como se não tivesse existido

Serei uma lembrança esquecida

O que poderia ter sido e não foi

Onde poderia ter ido e não foi

Oh!

Mas é assim

Fazer o quê se não tem jeito

Se não tem quem ajeite


Irecê, 11 de junho de 2010

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Fechando Portas

Ah, se a vida me sanasse

A dúvida que me perturba

Estaria a interrogação morta

Mas que importa

O que me valeria

Era não o fechar a janela

Mas o abrir da porta

Ah, me valeria tanto

Tanto que nem conta

Eu queria

Era uma exclamação graúda

Nessa vida sem ação (vida-inação)

Me valeria mais

Que o cigarro tremulando fumaça

Me valeria mais

Que o que é dado de graça

Mas de grado coração

Me valeria tão

Quanto aquilo que se dá

Sem pedir, nem pensar

Nada em troca

Me valeria mais

Que o valor que à vida

Dá a coisa quase morta (teimosa)

Uibaí, 05 de março de 2009

terça-feira, 1 de junho de 2010


As vezes, eu fico aqui pensando
no seu olhar de desprezo que me ignora
ou faz cara de espanto e me acha estranho
mas no íntimo do ser me adora

Outras horas, fico só de imaginar
se isso que não é pode um dia ser
um verso feito aqui, outro acolá
pra provar que que ela era você

Mas no fundo o que fico vendo
é o nada que me mora
é o tudo que me atropela

É a pobreza que me habita
é o cigarro que não se pita
e o vazio que me devora

Monologo da Humilhação. Do Auto da Canabrava


Veja, cá, seu moço

Que há coisas de aviar

Tecer com cada palavra

A teia do entendimento

Sem retalho, sem remendo

Pras idéia clariá

Boto cada palavra

Sem fazendo de rogado

Num sô dotô istudado

Vivo das terras, da lavra

Da labuta nas caatinga

Que é mais braba que as braba

Meu ofício não é nobre

Mas meu andar é honesto

E se me carece cobre

E é muito pobre meu fardo

Sempre ensino os meninos

Que seja sempre humilde

Mas nunca seje humilhado

Num é que me aconteceu

De lá nas bandas do Peixe

Onde a água nunca falta

Por mais que o sole sapeque

E que a madeira deite

Tem havido uns boato

De gente que é inxirido

Que não tem o que fazer

E de tanto os outros olhar

Ficam os seus esquecido

Que anda sumindo coisa

Banana, mandioca, milho

aipim, cabra e batata

E até mesmo novilho

E que a culpa da sumição

Vinha das precisão

Porque passa os meus menino

Ora, diz se isso num reta

Um cabra igualzin eu

Que se for pra brigar, mata

Se for pra ir pra guerra, adeus

Mas que nunca, nunquinha

Ia aceitar um roubo

De minhas mãos ou dos meus

Pois Deus é misericórdia

E só te dá um tanto fardo

Que caiba no lombo teu

Vicente Veloso. Do Auto da Canabrava

Eu sou Vicente Veloso

E vivo dentro dos mato

Fui escravo, fugitivo

Hoje, sou livre de fato

Vim de cima da montanha

Do arraial do Ventura

Pra lá de Morro do Chapéu

Trabalhava lá nas mina

Pertin de Jacobina

Onde as pedras trisca o céu

No ano quarenta e quatro

Do século mil e oitocentos

Eu vivia como escravo

Trabalhando como jumento

Vivendo desesperado

De tanto, tanto trabalho

Fazendo serviço pesado

Fosse noite ou sol a pino

Nunca acostumei com o fardo

Que tinha no couro grudado

Desde o tempo de menino

Um dia me perguntei

Se aquele era meu destino

Trabalhar até ficar velho

Trabalhar desde menino

E não vê o resultado

De tanto, tanto trabalho

Trabalhar até não prestar

Até ser posto de lado

Pois o dono do escravo

Mandado do céu não é

Depois de esgotar o sujeito

Quinze, vinte ano no eito

Lhe joga no meio da rua

Pra viver de esmolé

Pois o escravo quando velho

Já não guenta mais serviço

E fica veio, jogado

Como fosse um estrupiço

Um trem velho mulambento

Melhor não ter essa sina

Ter morrido pequenino

Um dia me perguntei

Se era aquele meu destino

Então, desorientei

E fiquei desplaneado

Daquela minha questão

Arrumei o resultado

Mas fiquei matutando

Sem saber se o fazia

Sem saber se me matavam

Ali mesmo na freguesia

Mas um escravo morto

Era de pouca valia

Não foi de caso pensado

Não foi uma maldade

Foi vontade de justiça

Dessas que anima e atiça

Que me chamou de verdade

E me disse, assim, baixinho

“Vicente, sabe a verdade

Está aí, em tu, aí dentro

Dentro do seu coração

Tanto a sua liberdade

Quanto a sua escravidão”

Então, animado e afoito

Fiquei com meu sangue quente

Recebi umas broncas

Do que se dizia meu dono

Que aquela minha moleza

Sofria por dor de dente

Era mode uma aguardente

Que sumiu de sua cabana

Eu disse, não, não fui eu

E não irei trabalhar

Ta vendo cá pra esse dente

Assim não vou agüentar

O diabo que tale dono

Pensou que o velho Vicente fosse

Não julgou novo o Vicente

E tentou dar-me com o açoite

Ali, mesmo, decidi

Não seria mais escravo

Não precisava de lei

Pra me haver libertado

Eu mesmo, preto Vicente

Orgulho da cor negra, carvão

Me libertei das correntes

Que me prendia não o braço

Mas o coração e a mente

E a espada da justiça

Em forma de velho facão

Usou das minhas duas mãos

Consegui minha liberdade

E dei, adeus, sem saudade

Para aquela escravidão

Aí, vixe, cai no mato

Subi serra, desci serra

Passei lajedo, beirada

Que beiradeiro não beira

Passei caatinga fechada

Sem lavoura nem fazenda

A não ser os gado e as roça

Que deus do céu, mesmo inventa

Caí no mato sem rumo

Caí no mato sem dó

Pois sabia que deus é grande

E o mato é muito maior

Me afastei o mais possível

Das terra de Jacobina

E de Morro do Chapéu

A apesar de ter passado

Fome e sede lá nos mato

Não ser mais um escravo

Me fazia sentir no céu

Valei-me São Benedito

Nossa Senhora do Rosário

Valei-me Jesus Cristo dos preto

Que padeceu no calvário

Cheguei lá num boqueirão

Duma serra que de longe

Era meio que azulada

Aqui ou então acolá

Um lajedo a branqueava

E embora, fome passasse

E o cansaço apertasse

A noite fria enginhava

O couro nu desde a tarde

A dor cresce o pé de pau

Os arvoredo e os animais

E nos homens foi a dor

Que trouxe a liberdade


Flávio Dantas Martins

quarta-feira, 26 de maio de 2010

uma canção (sem violão) escrita na madrugada feirense

diga que não quer, diga
diga que me odeia, que me despreza
desdenha quem tem apreço
por você, que não merece

mas não assuma nunca
que me pensa em sonho
que me come com os olhos
que me bebe com os dedos
que me aperta nos braços
que me morde os lábios
que me puxa os cabelos
ao menos
em teus devaneios

não diga
jamais
que me quer
que me pensa
que me persegue
que me espera
que me implora

prefiro que negue
até a morte
que me deseja

aceito que sempre diga não
quando quer sim

imploro que não faça
nenhuma loucura
por seu apreço a mim

finja
que lhe gosto atriz
por um triz
fulgaz

viva
nos meus poemas de giz

mas não morra
nos meus instintos animais

terça-feira, 25 de maio de 2010


somos regidos por Vênus
- regente do amor -
o meu, carnal, pecaminoso
o seu, divino, protestante

fomos gerados do amor
não sei quanto, nem aonde
nem se deu tempo pra durar

a vontade que tenho que dure o nosso
amor, violeta, escarlate, rosa
flor, incenso, mirra, vinho argentino,
cigarro
saudade

ah, vontade
de deitar meu corpo cansado de guerra
nos teus braços de plumas macias

cantar um poema no teu céu
e perecer de amor no fogo do teu inferno

ah, vontade
saudade

ah, mulher

somos do mesmo planeta
tu do ar
e eu do chão

ah, mulher
somos do mesmo barro
vermelho, amor, paixão

ah, mulher
deixa esse muro
vem pra meu barraco
e vamos viver do pão multiplicado no amor
e de vinho barato
de livros e discos que cultivo
de líros e gatos que crio
e crias são bichos ingratos

e só você, mulher
pra me alegrar
nesse mundinho
pequeno, mesquinho
e chato!

terça-feira, 11 de maio de 2010

um soneto feirense


Queria falar de amor
mas faltam palavras
sou pobre de lavras,
incapaz de as expor

sei o que o mesmo é
sei como é que se sente
tendo nos braços, presente
o calor de uma mulher

sei o que é preciso
fazer na situação
uma mistura impura

do abrangente e conciso
um misto de destruição
da doença e da cura

Feira de Santana, 11 de maio de 2010