sábado, 15 de agosto de 2009

DE CLEMENTE




Valentia é virtude
Em terra de fera
Nobreza amiúde
Covarde é quitude
Jantado na guerra

Fazendo cachaça
Em alambique, o primeiro
Clemente de Canabrava
Compôs nova roça
Caatingas adentro
Onde lhe era afeito
Fez curral de pedra
Fez brejo de pedra
Apois, canabrabeiro
Era sujeito
Que da pedra era feito

Compôs seu milharal
Em Lagoinha
Teceu gado em
Bandas do Caldeirão
Mas, no seu caminho
Sangue riscava o chão
Um sertanejo que por ele
Teve morte daquela
Morte mais matada
A morte de faca

O cabra tinha aldeia
E com sua faca
Clemente compôs
Da sua morte a teia

O pedra-sujeito
Campeava seu gado
Mandioca, milho
Estava atado seu pleito
E a vingança mais certa
Dessas de filho
Dormia bem quieta
E a viúva chorosa
Já lhe plantava
Precoce mortalha
A chuva lhe abria cova

Apois em sertão
Só a morte é farta
E defundo é a roça
Que mais vinga
Crescendo, de cruz, as mata

E em três dias
De solidão dos seus
Passavam sem haver
De Clemente notícias
Está em suas roças?
Em suas caatingas?
Em braços de putas
De distantes praças?
Não, dizia a estrada
Clemente Machado
Completou-se o ser
Virando lajedo
E nasceu-lhe, do peito
Que de pedra era feito
Um galho de faca

SERRA DE SANTO INÁCIO

A terra bruta
Inculca na cuca
O esmorecimento
Terra ingrata
Não se apalpa
O merecimento

Esse vai no vento!

Santo Inácio
Homens lassos
Entre rochas
Plantam dor
Colhem ouro
Mas não roça

Cá, a terra é grossa!

Ouro é alarido
É faca, bramido
De rico que é morto

Morto, uma hora
Ora, rico
Se mata por
Assunto pouco