quarta-feira, 26 de maio de 2010

uma canção (sem violão) escrita na madrugada feirense

diga que não quer, diga
diga que me odeia, que me despreza
desdenha quem tem apreço
por você, que não merece

mas não assuma nunca
que me pensa em sonho
que me come com os olhos
que me bebe com os dedos
que me aperta nos braços
que me morde os lábios
que me puxa os cabelos
ao menos
em teus devaneios

não diga
jamais
que me quer
que me pensa
que me persegue
que me espera
que me implora

prefiro que negue
até a morte
que me deseja

aceito que sempre diga não
quando quer sim

imploro que não faça
nenhuma loucura
por seu apreço a mim

finja
que lhe gosto atriz
por um triz
fulgaz

viva
nos meus poemas de giz

mas não morra
nos meus instintos animais

terça-feira, 25 de maio de 2010


somos regidos por Vênus
- regente do amor -
o meu, carnal, pecaminoso
o seu, divino, protestante

fomos gerados do amor
não sei quanto, nem aonde
nem se deu tempo pra durar

a vontade que tenho que dure o nosso
amor, violeta, escarlate, rosa
flor, incenso, mirra, vinho argentino,
cigarro
saudade

ah, vontade
de deitar meu corpo cansado de guerra
nos teus braços de plumas macias

cantar um poema no teu céu
e perecer de amor no fogo do teu inferno

ah, vontade
saudade

ah, mulher

somos do mesmo planeta
tu do ar
e eu do chão

ah, mulher
somos do mesmo barro
vermelho, amor, paixão

ah, mulher
deixa esse muro
vem pra meu barraco
e vamos viver do pão multiplicado no amor
e de vinho barato
de livros e discos que cultivo
de líros e gatos que crio
e crias são bichos ingratos

e só você, mulher
pra me alegrar
nesse mundinho
pequeno, mesquinho
e chato!

terça-feira, 11 de maio de 2010

um soneto feirense


Queria falar de amor
mas faltam palavras
sou pobre de lavras,
incapaz de as expor

sei o que o mesmo é
sei como é que se sente
tendo nos braços, presente
o calor de uma mulher

sei o que é preciso
fazer na situação
uma mistura impura

do abrangente e conciso
um misto de destruição
da doença e da cura

Feira de Santana, 11 de maio de 2010