quarta-feira, 13 de maio de 2009

Poemas


1
Ah, a idéia tua
há tu, ser ideal
a tua pele sua
repele o frio
e faz do meu inverno
um carnaval
2
Navegar
a esmo sem lar
e mesmo sem mar
quero navegar
vesgo a procurar
as ondas que se escondem
sob tuas roupas
estas são tão poucas
como queria me perder no pecado contigo
mas que crime há
em ser um pouco mais que amigo?
3
meu peito arfante
da asma de ti
me afoga às noites
em que me faltas
ofegante, morro
mas vem vivas e me afaga
minhas águas em tuas águas
minhas mãos e tuas palavras
eu poesia e tu pousava
tu lua e eu astronauta
4
Não quero que a poesia me abra portas
Antes abra pernas
E monte um círculo vicioso
De versos gozosos

Não quero que a poesia me leve em sonhos
Nem quero lua cheia e eu uivando
Quero antes
A volúpia de sermos amantes
O matar-a-sede devorando carne
E a vileza de bater nela
Mas bater com todo o amor que pode haver neste mundo

Não quero que os sonetos falem casas,
Jantares, envelhecimento, fidelidade
Quero, primeiro
O cessar das vontades
E o esvair na escuridão sobre nossa cama
Que não nos pertence
Mas pertence a quem ama

Não, não quero que me fales
Palavras gentis, de amores verdes que amadurecem lentamente
E de forma calma
Preciso, pra sobreviver, que me fales canalhices
Sacanagens, putarias
E todo aquele vocabulário de calçadas

Pois assim é meu romantismo
Feito de encontros soturnos
Em luas enluaradas
E lobisomens sedentos
E mulheres de branco nuas
Em altas da madrugada
Regada a álcool e versos

5
Venha, menina-mulher
Vamos compartilhar esse matar-a-sede
Que nos cega
E nos afaga
Venha, rápido, com a sordidez de uma fera
Alada
Sejamos
Um amalgama
De carne e pulsão e nada

Venha
Que esse matar-a-sede me afoga
Se o possuo
E me possui quando me falta
Agora, que o ensandecer é uma pantera louca
Que nos circunda e tocaia
Certeza, presa dessa coisa-fúria
Que seja logo feira e poesia futura
Uibaí, 28 de março de 2009.
6
Fuga.
Encanta-me a ideia,
Mas falta-me coragem.
Então adormeço e penso
Em toda a safadeza
Que pode haver
Em teus pensamentos
E atos
(que dão no mesmo).
Mas acordo
E, cansado, não do amor safado
Mas do meu próprio cansaço
E me esqueço
(mas até me sinto alegre)
Que o bom da vida é a ser logo
E o bom da morte é ser breve

Uibaí, 31 de março de 2009