terça-feira, 1 de junho de 2010

Monologo da Humilhação. Do Auto da Canabrava


Veja, cá, seu moço

Que há coisas de aviar

Tecer com cada palavra

A teia do entendimento

Sem retalho, sem remendo

Pras idéia clariá

Boto cada palavra

Sem fazendo de rogado

Num sô dotô istudado

Vivo das terras, da lavra

Da labuta nas caatinga

Que é mais braba que as braba

Meu ofício não é nobre

Mas meu andar é honesto

E se me carece cobre

E é muito pobre meu fardo

Sempre ensino os meninos

Que seja sempre humilde

Mas nunca seje humilhado

Num é que me aconteceu

De lá nas bandas do Peixe

Onde a água nunca falta

Por mais que o sole sapeque

E que a madeira deite

Tem havido uns boato

De gente que é inxirido

Que não tem o que fazer

E de tanto os outros olhar

Ficam os seus esquecido

Que anda sumindo coisa

Banana, mandioca, milho

aipim, cabra e batata

E até mesmo novilho

E que a culpa da sumição

Vinha das precisão

Porque passa os meus menino

Ora, diz se isso num reta

Um cabra igualzin eu

Que se for pra brigar, mata

Se for pra ir pra guerra, adeus

Mas que nunca, nunquinha

Ia aceitar um roubo

De minhas mãos ou dos meus

Pois Deus é misericórdia

E só te dá um tanto fardo

Que caiba no lombo teu

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