segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Espelho

Acordo
Torto, tento o espreguiçamento do gato, mas só possuo a preguiça
Sonolento, tento o retorno do sono, mas só permaneço confuso
Lúcido, quero saber da verdade, mas só da dúvida sei

Desperto
Classificar papéis, decidir tarefas, escorar o cotidiano com eletricidade, água e despensa
Para, depois, enfeitar o lar de sorriso
De afeto, de alegria, de esquecimento
Do próprio estar sendo

Existo
No espelho só vejo barba, olheiras,
Limpo a superfície da face
E aquilo que talvez seja
Permanece oculto por detrás da íris de chumbo
E a minha face verdadeira
Está perdida por detrás da maquiagem
Tranquilidade, alegria, sucesso, felicidade, aventura
Sim, o sou
Sou esse que veem
Mas sou outros
Outros que não quero, outros que prefiro, outros que ignoro
Sou vários por vezes
Por isso, moro sozinho
A casa está lotada
Nas minhas prateleiras, mal cabem os livros daqueles que sou que leem
Os discos que aqueles que sou e que apreciam
Na minha geladeira, mal cabem as cervejas dos que bebem e os vinhos dos que se embriagam

Mal caibo em mim

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