quarta-feira, 29 de setembro de 2010
Desilusão
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
Hoje eu peso as coisas
Numa balança
Queria por o coração de um lado e uma pluma noutro
Mas não tenho plumas, só penas
E não há coração, dei a outrem
E o fizeram em pedaços
Então, ponho as minhas mãos calejadas
Em um dos pratos
Pesam, apesar, magras
E no outro, que pôr?
O sal que me sai dos olhos?
Ou as rugas que cobrem as faces?
A prata dos cabelos?
Algum velho retrato?
Ah, bobagem, não ponho nada
Deixe de tristeza e sonho
Me cansei de tanta besteira!
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Mas não mais peço amor
Nem amado sou, creio
Ah, sou
Mas não daquele jeito
Prometi rosas, cânticos, poemas
Bebedeiras trágicas
Prometi serenatas
Com os boêmios mais vagabundos
Prometi chorar até
Com lágrimas salgadas
Retiradas do vale de lágrimas mais triste
Das novelas, do cinema, dos dramas e dos romances
Mas soaram falsas minhas promessas
E quando a tive, novamente,
Não mais amava-a
Ah, amasse-me como outrora
Não seria recíproco
Tudo é como não pode ser
E o que deve ser
Não é
Teus braços de linhas
Tem dedos ligeiros
Em “graciosas” mãos
De uma Graça em pessoa
Deles saem flores, pântanos
Criaturas sorridentes
Caricaturas engraçadas
E cores infindáveis
Em traços preto-e-branco
Como consegues, Moça?
Como consegues ser tão graciosa
Fazer a gente te amar assim de graça
E sorrir feito uma criança
Quanto te vejo na praça
Como consegues?
Penso que a tua mais bela obra-prima
De teu ofício de arte que nunca terá
Será o desenho do teu sorriso
Gravado na minha alma
Lá onde guardo as coisinhas simples
E banais e graciosas
Que fazem a vida valer a pena!
Acordo à noite, friento e pavoroso
E me assusta o ruflar de asas de uma ave
Aos poucos o teu cabelo em chamas, gracioso
Me vêem da memória e fere alma como um sabre
Eu a sonhava e era um pesadelo
Pois eu a tinha em meus braços como a vida
E a perdia, velozmente, como a morte
E ela queimava meus olhos dizendo adeus
Se queixando que não valho um níquel, um cobre
Ia embora por meu descaso e desleixo
E eu, odiado filho de Morpheus
Acordava, sôfrego, com o peito arfante
Ah, como teu calor me deixa em brasa
E como teu pensar me causa asma!
segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Ah, como sou velho
Como não sei nada
E possuo fastio em aprender
Sou rabugento e desagradável
E meus olhos não brilham
E não sei ser criança hora alguma
Ah, como sou antiquado e ultrapassado
E não sei usar os termos da minha geração
Para designar o amor e o engano
E ilusão e o preconceito
A idiotice e a superficialidade
Ai! Queria não ser velho
E talvez até pensassem em ser jovem
Talvez até achasse graça
Em alguma coisa em tudo isso?
Feira de Santana, 12 de setembro de 2010
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
Crendice

Mais uma tragada dessa saudade cheirosa. Guardo uns sonhos no canto do quarto. Procuro a caixa de cartas velhas e releio como se tivesse voltado a viver. Minha coluna, ereta, dói e procuro um desconforto na inexatidão. Rumino a dor. Desgosto áspero. Arrependimento em ter acreditado. Traição de todos, sim, mas vinda de mim mesmo. Sim. Me iludi, preguei cartazes de circo na transparência da vidraça. Vergonha de ter crido. Se meus papéis se queimassem agora nas mãos dela...
23-12-2003
quinta-feira, 9 de setembro de 2010
Persephone
Arranco a vida de uma flor
E antes dela perecer, desfaço suas pétalas
Bem-me-quer, mal-me-quer
Com a sofreguidão de bacantes acéfalas
Todo coração
E a flor vingativa
Parece ecoar meu mal-me-quer
E me nega, a cada pulso, essa mulher
E a escuridão me abriga
E só desejo o sol
E ela é céu, é brisa, é mar
É toda a força natural
Que faz crescer as árvores frondosas
E muito mais destrói, decompõe e desfaz
E me instiga à perseguição até furar os pés
E parece que recuso a ouvir quem é
Quanto mais mal-me-quer
Mais bem me faz
Feira de Santana, 01 de setembro de 2010

Assombra-me com teu saber
Que precisa em poucas linhas quem sou
Mesmo sem saber disso
E eu não sei sabê-la
E fico triste, pois não retribuo
A alegria que ela me dá
Mas, por outro lado,
É isso que nela me encanta
Não sabê-la como ela me sabe
Mistério! Misteriosa é a madrugada
Secreta! Segredo é a maçonaria
Oculta é a magia da ficção
Ela me revela a vida
E se desfaz como a névoa
Da manhã da serra
Serra da minha terra
De montanhas que chamam morros
E pântanos que chamam brejos
Na minha terra
Chamaram ela
De danada
Mas ela é pura e santa
Como uma criança
Doce
(Mas parece tanto com a Mulher que Não Conheço)
Eu não a entendo
E quero entendê-la
E não posso
Feira de Santana, 01 de setembro de 2010