quarta-feira, 17 de junho de 2009

Triste, bebo até o fim
do gole de aguardente
sinto-me sujo e doente
e me apiedo de mim

sinto os olhos censores
das velhas aposentadas
que de igrejas frequentadas
criam por Deus amores

mas sinto-as cheias de dores
de sua vida pecadora
que retumbava outrora
mas feneceram como flores

e elas tem até Deus
e eu, que não creio e sinto
um vazio por dentro e desminto
bebendo feliz com os meus

é fácil em condenar
mas elas se esqueceram
que remédios por inteiro
há vários a se usar

e a maior droga não é
nem de longe o meu alcool
ele é droga, de fato
mas nem se compara a fé

e da fé, eu sou o filho
mais infame e rejeitado
dela fui deserdado
mas, vivo, sigo meus trilhos

do amor, fui combalido
de Deus, desacreditado
e quem vê o meu estado
pensa olhar para um vencido

mas enganam-se e penso
que mesmo em corpo caído
meu espírito soerguido
preserva a alma de bardo

um bardo que não tem versos
que não preserva esperança
e feneceu a criança
que trazia em si, imerso

não, não bebo por prazer
bebo pra acalmar a alma
cessar essa dor que malha
bebo para a esquecer

mas é um esforç0 inútil
pois, devorante, a vida
volta toda empedernida
e reabre o tédio mútuo

que eu sinto pela vida
e que a vida me sente
e quem me pensa doente
advinha-me a ferida

mas não, não é física
a chaga que eu carrego
está aberto no meu ego
nem é cancer, nem tísica

o meu mal não é beber
e não poder mais livrar-me
o problema é um charme
que a vida não me apresenta

e se não encho de vinho
o vazio que me preenche
esse fantasma indecente
me pertuba, sozinho

é por isso que bebo, pois
viver é adoecer de tédio
e beber é um remédio
com o codo, estou a dois

pois ele não me exige fé
nem crenças de ordem alguma
e bebum não tenho alcunha
e a dor do mundo não me é

a dor que me tortura
é ver ungida toda a cara
de sangue, dor canalha
e nunca saber da ternura

Uibaí, 11 de abril de 2009

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