“Vi carros triunfais... troféus...
Pérolas grandes como a lua...
Eu vi os céus! Eu vi os céus!”
Manuel Bandeira
“Chega-te a mim! Entra no meu amor,
E à minha carne entrega a tua carne em flor!”
Olavo Bilac
“Quem ousará dizer que ele é só alma?
Quem não sente no corpo a alma expandir-se
Até desabrochar em puro grito
De orgasmo, num instante de infinito”
Carlos Drummond de Andrade
“Lava na água fria, em vão. Está quase, quase – euu chego perto. Pronto, outra vez. Lá vem ele, certeiro: o facão redondo de mel”
Dalton Trevisan
domingo, 12 de julho de 2009
DA ARTE

I
Se voltas o rosto
É como a barra diurna
Destelhando o teto da madrugada
Se não acontece
O vento frio noturno
Petrifica as mãos
Que te escreve versos
E a Vida
Torna-se muda
Sem idioma
Só silêncio
Apocalipse amortalhando o mundo
Ah, mas quando
Voltas o sorriso
Um calor abrasante
Faz crescer lírios e girassóis
Do esterco úmido
Faz fenecer o lodo
E a areia escaldante vira floresta
Enverdece tudo
E se me tocas
Há um mágico
Que faz andarem os aleijados
E ouvirem os surdos
E se me amas
Uiva em mim o lobo
Uibaí, 23 de junho de 2009
II
Porém
Nunca voltas o rosto
Abres um sorriso
Toca-me as mãos
Amas meu corpo
Se vês inteira pertencida em alma
Mas pode a alma permanecer
Se perecer a carne?
Não creio!
É preciso transformar a sede
Em festa
E a fome em brasa
Aquecendo a noite
Fazendo dia
Dentro de casa
Sobre a cama
Pois a alma alada
Só deseja
E nunca ama
E a carne reclama
Uibaí, 23 de junho de 2009
III
Vives como se fosse objetivo a preservação
E consequentemente a comiseração e a responsabilidade
Doses regulares de moral, pílulas de auto-piedade
E a lastimável obediência à suposta Razão
Perguntas se assim vivo e eu digo “Não”
Nunca Mais assim hei de seguir a Vida
Antes a incerteza da Artista, a bebida
Perturbando o labirinto e afetando o juízo são
A “viver” farto de rotina e fadigas
E esmorecer de tédio morrendo de fastio
Prefiro viver abrupto e arredio
A sistemas, crenças, essas ordens de Fé
Que juram escorar-se na Razão
Mas racionais não foram, não são e nunca serão
Irecê, 25 de junho de 2009.
IV
A imagem que me toma a mente
É de uma bela mulher pudica e despida
Não de carne, mas em rocha esculpida num altar
Duma Igreja blasfema onde se adora a Vida
Mas não se adora lá o feminino em particular
Lá se adora o efêmero, o passageiro
Pois a maior beleza nunca é fixa
O Eterno é incontornável, translúcido e feio
E o Belo sempre se transmuta e muda
O Belo perece e o Eterno permanece
Mas enquanto o Eterno é carrancudo e obriga
Que lhe lembrem, do Belo não se esquece
O Belo toma a imagem da mente
E confere lentamente a sensação de prazer
Já o Eterno habita, não a memória, mas a consciência
E pra que Ele haja, nos ameaça com o não-ser
Irecê, 25 de junho de 2009.
Se voltas o rosto
É como a barra diurna
Destelhando o teto da madrugada
Se não acontece
O vento frio noturno
Petrifica as mãos
Que te escreve versos
E a Vida
Torna-se muda
Sem idioma
Só silêncio
Apocalipse amortalhando o mundo
Ah, mas quando
Voltas o sorriso
Um calor abrasante
Faz crescer lírios e girassóis
Do esterco úmido
Faz fenecer o lodo
E a areia escaldante vira floresta
Enverdece tudo
E se me tocas
Há um mágico
Que faz andarem os aleijados
E ouvirem os surdos
E se me amas
Uiva em mim o lobo
Uibaí, 23 de junho de 2009
II
Porém
Nunca voltas o rosto
Abres um sorriso
Toca-me as mãos
Amas meu corpo
Se vês inteira pertencida em alma
Mas pode a alma permanecer
Se perecer a carne?
Não creio!
É preciso transformar a sede
Em festa
E a fome em brasa
Aquecendo a noite
Fazendo dia
Dentro de casa
Sobre a cama
Pois a alma alada
Só deseja
E nunca ama
E a carne reclama
Uibaí, 23 de junho de 2009
III
Vives como se fosse objetivo a preservação
E consequentemente a comiseração e a responsabilidade
Doses regulares de moral, pílulas de auto-piedade
E a lastimável obediência à suposta Razão
Perguntas se assim vivo e eu digo “Não”
Nunca Mais assim hei de seguir a Vida
Antes a incerteza da Artista, a bebida
Perturbando o labirinto e afetando o juízo são
A “viver” farto de rotina e fadigas
E esmorecer de tédio morrendo de fastio
Prefiro viver abrupto e arredio
A sistemas, crenças, essas ordens de Fé
Que juram escorar-se na Razão
Mas racionais não foram, não são e nunca serão
Irecê, 25 de junho de 2009.
IV
A imagem que me toma a mente
É de uma bela mulher pudica e despida
Não de carne, mas em rocha esculpida num altar
Duma Igreja blasfema onde se adora a Vida
Mas não se adora lá o feminino em particular
Lá se adora o efêmero, o passageiro
Pois a maior beleza nunca é fixa
O Eterno é incontornável, translúcido e feio
E o Belo sempre se transmuta e muda
O Belo perece e o Eterno permanece
Mas enquanto o Eterno é carrancudo e obriga
Que lhe lembrem, do Belo não se esquece
O Belo toma a imagem da mente
E confere lentamente a sensação de prazer
Já o Eterno habita, não a memória, mas a consciência
E pra que Ele haja, nos ameaça com o não-ser
Irecê, 25 de junho de 2009.
V
A sua sensibilidade de Artista
Acha rude meu jeito
E o verbo “pegar”
Vulgar
Mas não
Vinicius de Moraes, fosse vivo
Me daria razão
“Pegar” é sublime
Coisa de anjos
Se eu lhe pegasse, por exemplo,
Entraria num gozo calmo e sairia desse banzo
Ah, e aquelas vezes
Em que se vê
Coisa tão bela
De não se crer que há
E a gente pergunta
“É de se pegar?”
Ah, moça
Quero pegar você
Mesmo que não concordes
Que haja aí poesia
Uibaí, 28 de junho de 2009.
VI
Eu gosto de você de um jeito
Que até o preço do pão me importa pouco
Que poderia falar até ficar rouco
Dessa coisa que trago guardada no peito
Deitado no hospital, vegeto nesse leito,
Me distraio com livros de história da arte
E você está em tudo, em toda parte
E já não é mais só desejo, nem afeto
O desejo, dos sentimentos, é um feto
Que cresce e pode transformar-se muito
E ele cresceu e transformou-se tanto
Que no que ele tornou-se, não estou afeito
Eu gosto de você de não ter jeito
Inverno de 2009
,%25201942.jpg)
Assinar:
Postagens (Atom)